Discurso do Presidente Dr Francisco Calheiros no 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo

Discurso do Presidente Dr Francisco Calheiros no 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo

Exmo. Senhor Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Dr. Pedro Siza Vieira;

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Dr. José Carlos Martins Rolo;

Exmo. Senhor Presidente do Turismo de Portugal, Dr. Luís Araújo;

Exmo. Senhor Presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Eng. Raúl Martins.

Minhas senhoras e meus senhores,

Boa tarde a todas e todos,

Uma nota inicial para agradecer ao presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Eng. Raúl Martins, o convite para vos proferir umas palavras nesta 32ª Edição do Congresso Nacional da Hotelaria e do Turismo.

E o meu obrigado ao Algarve e hoje particularmente a Albufeira por sempre receberem tão bem.

Uma saudação especial a todos os hoteleiros, que tão importantes são para a atividade do Turismo. Quero destacar a sua resiliência e coragem neste período de pandemia que temos atravessado e que tantas consequências teve na hotelaria. Mas ao mesmo tempo uma palavra de esperança que está bem espelhada no título deste Congresso.

Saúdo também a todos os oradores e participantes neste congresso, que durante estes dois dias vão ter a oportunidade de abordar temas tão abrangentes e importantes como o Futuro do Turismo; A importância da Acessibilidade Aérea na Recuperação do Turismo; o Financiamento das Empresas do Turismo ou a Valorização dos Recursos Humanos, da Digitalização e da Sustentabilidade na Atividade Turística.

Estes são sem dúvida temas que marcam a atualidade da atividade turística em geral e da hotelaria em particular, sobretudo depois de termos passado por tempos tão difíceis, devido à pandemia, e tendo em conta a atual conjuntura política em Portugal, com inevitáveis consequências na economia nacional.

A atual situação do país deixa-me obviamente preocupado, mas impõe-se a serenidade, devemos olhar para o Futuro e juntos conseguirmos a recuperação do

Turismo, pois seguindo a temática do Congresso da AHP, “O Turismo Tem Futuro!”.

Mas não posso deixar de recordar que o caminho que temos pela frente tem um ponto de partida:

Em 2020, tivemos o pior número de dormidas desde 1993 e uma quebra na atividade turística na ordem dos 63%. Em 2021, esta quebra deverá situar-se nos 50% em relação ao ano anterior.

Ficamos, pois, este ano, longe dos 27 milhões de turistas, dos 70 milhões de dormidas ou dos proveitos globais registados em 2019.

Segundo dados da AHP, a pandemia tirou 73% da faturação das empresas da hotelaria. Apesar do contributo do mercado interno, os indicadores económicos da hotelaria mantiveram a quebra em Agosto.

De acordo com os últimos dados do INE relativos ao mês de agosto, os proveitos gerais registados nos estabelecimentos de alojamento turístico desceram mais de 19,2%, relativamente a agosto de 2019, tendo o número de hóspedes descido quase 24% e o número de dormidas 22%.

Perante este cenário há, porém, factos positivos: os certificados digitais de vacinação possibilitam-nos hoje viajar com mais segurança e o processo de vacinação está a ter bons resultados.

E veja-se como a recuperação do Turismo já se começa a notar:  Em setembro, as dormidas de turistas estrangeiros superaram as dos portugueses pela primeira vez desde que a pandemia começou. Um sinal de que as viagens estão a aumentar e que os turistas estrangeiros continuam a escolher Portugal como destino seguro.

Em particular, o Algarve, onde nos encontramos, começa a receber mais turistas, sendo que a região concentra 33,5% das dormidas, de acordo com o INE.

No entanto, para o total do ano 2021 as previsões da CTP apontam para uma quebra de passageiros nos aeroportos nacionais na ordem dos 60% e uma quebra de dormidas no alojamento turísticos na ordem dos 50%.

Por isso, para que se prossiga a recuperação da atividade turística, que os últimos meses já começam a demonstrar, é necessário que as empresas estejam preparadas e sobretudo estejam capitalizadas para fazer face aos desafios que se nos colocam.

É necessário fortalecer o Ecossistema do Turismo para que este possa dar resposta à altura às solicitações da retoma. Daí a importância de serem aprovados pelas instâncias próprias os projetos e o valor de investimento contidos na Agenda Acelerar e Transformar o Turismo, uma agenda mobilizadora já entregue ao Governo, no âmbito do PRR que visa obter apoio financeiro a projetos que no global estão avaliados em 145 milhões de euros. Projetos de investigação e desenvolvimento, inovação, transformação digital e transição climática, na área do Turismo, que pretendem cumprir os eixos definidos no PRR, visando concretizar os objetivos do Plano de Reativação do Turismo.

Para que o Turismo volte a ser a atividade mais dinâmica, mais exportadora e mais competitiva da economia nacional é preciso que os apoios previstos, nomeadamente os que constam do Programa Recuperar o Turismo, cheguem efetivamente às empresas.

É urgente a implementação do plano que prevê um investimento superior a 6 mil milhões de euros, dos quais 4 mil milhões de euros são para as empresas. Não podemos continuar na incerteza de saber quando as empresas estarão verdadeiramente capitalizadas. Não podemos continuar a ver unicamente o reforço de poucos milhões, vindos de medidas que já estavam a ser implementadas e que mais não são do que paliativos.

Há medidas fundamentais de capitalização das empresas, instrumentos financeiros para a capitalização das empresas que não saíram do papel e que devem ser prioridade absoluta de um próximo Governo.

Bem sei que a atual conjuntura política obriga a um compasso de espera em muitas decisões, mas na verdade, os apoios às empresas do Turismo estão há muito aprovados, pelo que nada impedirá que cheguem já às empresas.

E talvez um novo Governo e sobretudo um novo Orçamento do Estado sejam uma oportunidade para que os responsáveis do Turismo sejam ouvidos e para que se implementem medidas há muito necessárias:

Impõe-se, desta forma que, para além dos apoios previstos no PRT, um próximo Governo vá mais longe. Por exemplo, reforçando os benefícios fiscais e reduzindo a carga fiscal.

Mas também é urgente o novo aeroporto para que os estrangeiros que necessitam de viajar para o nosso país tenham a certeza de que Portugal tem infraestruturas aeroportuárias de qualidade e que respondem à procura.

Decisiva será também a capacidade de se investir na promoção externa do país, alargada a novos mercados, num contexto mais competitivo do que nunca, com todos os destinos turísticos a trabalhar na mesma direção.

Minhas senhoras e meus senhores,

Num momento em que o país atravessa dificuldades económicas em vários setores devido à pandemia, e em que o investimento se apresenta como um dos piores indicadores, assistimos à resiliência das empresas do Turismo que, com os apoios devidos, cá estão para fazerem o seu trabalho, investirem, contribuírem para o crescimento do Turismo e da economia portuguesa e para a criação de emprego.

Acredito mesmo que em 2023 estaremos próximos do cenário pré pandemia.

As perspetivas para o ano de 2022 já são necessariamente otimistas face ao vivido nos últimos dois anos, tendo em conta, por exemplo:

  • Que a vacinação resultou - ainda que sendo necessário o seu reforço;
  • Que os medicamentos antivirais para combater futuras infeções já foram aprovados pelo Reino Unido e está em curso a sua aprovação nos EUA;
  • O facto de os consumidores estarem ávidos de viajar.

Mas há que ter em conta o seguinte:

  • As economias dos nossos principais mercados emissores vão ter de pagar as dividas do combate ao COVID-19, o que significa mais impostos e menos rendimento disponível para as famílias;
  • A crise energética irá ter impactos em toda a cadeia de valor do Turismo com o impacto nos preços;
  • No plano dos recursos humanos o Turismo terá de rever a sua proposta de valor, nomeadamente as condições de trabalho e remuneração para poder atrair mais e melhores recursos;
  • No imediato, os custos para fazer face às metas de descarbonização da economia irão pesar sobre as economias, entre as quais a nacional.

Estas são condicionantes que temos de ter em conta, mas que saberemos ultrapassar.

Como dizia Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.

Por isso há que acreditar. E tenho a certeza que numa união de esforços entre empresários e decisores, tendo em vista objetivos comuns, vamos conseguir recuperar e chegar mais longe, porque “O Turismo tem Futuro!”

Obrigado a todas e todos!

11 Novembro 2021